Respeitem a bandeira vermelha



Em Julho o mar da Figueira da Foz fez uma vítima, um jovem de 22 anos, de Castelo Branco, já não me recordo se foram conhecidas as condições do acidente. Agora foi a vez de um homem de 58 anos, de Cantanhede, ter sido tragado pelas águas. O primeiro morreu numa praia não vigiada, o segundo, na praia do Relógio, mesmo em frente à esplanada Silva Guimarães. A perda de vidas é sempre lamentável. Mas ainda mais lamentável se torna quando na sua base está a velhinha imprudência.

No fim-de-semana passado vi os/as nadadores/oras-salvadores/oras a apitar para que as pessoas se deixassem de brincadeiras junto das ondas. Tem estado imenso calor, apetece realmente refrescar nem que seja a ponta dos pés nas águas. Mas não com a ondulação medonha que tem estado, espectacular para apreciar, mas não para banhos. Quem frequenta a praia do Relógio sabe que ela não é plana, a areia desce até ao mar. As ondas enormes desfazem-se e projectam água que sobe rapidamente pela areia. Esta água desce depois vertiginosamente e arrasta quem se descuidar. É mais fácil do que parece. As bandeiras têm alternado entre o amarelo e o vermelho, mas isso não tem afastado TODA a gente da água. Para mim a indicação é clara: vermelho é para ficar no seco. Pessoas, se estão com calor, se estão mal, mudem-se. Vão até aos chuveiros de praia, vão para uma esplanada, um café, vão para casa. Não sei de onde é que lhes vem a confiança para se acercar do mar nestas condições, acreditem que as ondas têm estado maiores do que eu. Bem, eu sou pequena, não foi um bom exemplo. Talvez por isso tenha medo perante as enormes massas de água que se desfazem em espuma contra a areia. Estes banhistas querem testar o quê? A coragem? A temeridade? A loucura?! O que é preciso além de ter olhos na cara?! É todos os anos o mesmo.

Já vi cenas de arrepiar, um quase afogamento, que, felizmente, foi remediado mas apenas porque o mar que tinha enrolado uma mulher nas ondas a deitou para fora e uns banhistas ágeis lhe deitaram a mão. É preciso ver que as imprudências podem matar não apenas o imprudente mas também quem socorre e que nem sempre é o nadador-salvador. Nesse caso e nem sei porquê, não havia nenhum em frente à praia do Oásis, e vi muita gente a precipitar-se para dentro de água. Claro que isto aconteceu num dia de bandeira vermelha.

Será preciso fazermos uma daquelas campanhas como se faz nas estradas, com as fotos de quem perdeu a vida nos respectivos locais, para convencer os banhistas de que o mar é realmente perigoso e de que a bandeira vermelha hasteada tem um significado? Eu já não sei. É como os banhistas e as escarpas algarvias. Continuam a procurar a sua sombra e a queixar-se que os sinais de aviso são pequenos e poucos. Depois lá vem um dia em que as pedras rebolam e o infortúnio acontece, e ai meus Deus que tragédia, e de quem é a culpa, e a quem é que vou pedir contas, etc, etc. Nem que o aviso estivesse escrito no céu em letras de fogo: o mal só acontece aos outros.

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