A censura no Facebook veio para ficar: não é defeito, é feitio



Há uns tempos atrás um amigo meu colocou repetidas vezes no seu mural do Facebook um fotografia. Eu já não recordo o tema da mesma mas sei que não podia ser classificada como imprópria à luz dos termos de uso da rede. Em virtude desse facto o seu perfil foi apagado sem contemplações. Ele pensou que algum inimigo pessoal ou embirrador de estimação tivesse denunciado a sua conta, mas do meu ponto de vista o César apenas tinha feito spam e de acordo com os termos de utilização isso é motivo para o nosso perfil ser mandado às urtigas pelos senhores do Facebook. O César Figueiredo foi vítima do Big Brother do Facebook.

Nos seus termos de utilização do Facebook lemos o quanto ele preza a nossa privacidade. A sua preocupação connosco é de tal ordem que está constantemente de olho naquilo que os nossos amigos possam fazer pois nós, Nós, amigos dessa pessoa, podemos ser incomodados com as suas postagens na wall e como somos desprovidos de inteligência para puder ajuizar e reagir em conformidade, o Facebook intercede. O Facebook actua assim como uma espécie de pau-de-cabeleira das amizades, zelando para que todos continuemos amigos e queridos uns dos os outros. Gostava de ter uma palavra a dizer em relação ao comportamento dos meus amigos ANTES do Facebook exercer o seu direito automático de apagão de perfis. Eles são meus amigos e eu dei-lhes acesso aos MEUS domínios. Mas não. A conta do meu amigo foi apagada, ele ficou danado e com razão, e eu, alvo da proteção do Facebook, não fui vista nem achada. Mas se eu e mais um punhado de gente dissermos ao Facebook que não gostamos de uma página que brinca com a violação...o Facebook assobia para o ar em nome da liberdade de expressão!

Quando entramos no Facebook até parece que nos vamos casar ou coisa do género. Estabelecemos um compromisso com ele. Nada de postar comunicações comerciais não autorizadas, nada de spam, nada de acessar o Facebook usando meios automatizados, nada de fazer marketing multi-nível ilegal tipo esquema de pirâmide, nada de intimidar ou perseguir qualquer usuário, nem pensar em publicar conteúdo odioso, ameaçador, ou pornográfico, violência implícita, nudez ou violência gráfica ou gratuita.

Perante isto seria de esperar que um grupo do Facebook que contém piadas à violação tivesse sido retirada do ar. Mas, pasmem, nada disso. Nem após 5000 protestos no Reino Unido e 176 mil assinaturas numa petição online nos EUA. A página tem actualmente mais de 200.000 Likes. A culpa foi da BBC que publicou isto e isto. O grupo, até aí pouco divulgado, viu-se alvo de uma multidão de acessos. O criador do mesmo, que diz não apoiar a violação como acto, tem-se em alta consideração, e na sua opinião apenas se trata de uma brincadeira entre eles e os seus amigos, quem acha que é algo grave são apenas os “pobres de espírito”! Uma brincadeira a que chamou You know she's playing hard to get when you're chasing her down the alley, ou seja, Sabes que ela se está a fazer difícil quando a persegues beco abaixo, ao que juntou a sugestiva fotografia de um beco escuro. Violação é sempre sinónimo de violência, entre mulheres e homens. Brincar com violência, indicia má formação de carácter. Violência não contextualizada não serve qualquer propósito, começa e esgota-se aí. Neste momento crescem a troca de comentários entre os defensores da liberdade de expressão e os que defendem que as vítimas de violação se sentem duplamente ultrajadas primeiro com a criação deste grupo e depois com a sua manutenção no ar pelo Facebook.

Para o Facebook a liberdade de expressão é muito importante. Pena que o bom senso não o seja também. O medo que têm de acusações de censura conduz a que haja margem para muitos conteúdos graves circularem na rede que é grátis e sempre será. O que torna toda a circulação da estupidez uma completa borla. De acordo com declarações do Facebook à BBC, o pessoal que passa à lupa os conteúdos frequentemente encontram gentinha a discutir e a postar sobre temática polémica mas entendem que o que é polémico para umas pessoas para outras não passa de bolas de sabão - uma ofensa para um pode ser entretenimento da melhor qualidade para outro. Por isso nada há a fazer. E até dão um exemplo: uma pessoa que num bar conte uma piada grosseira não vai ser corrida de lá por isso. De igual modo o Facebook também não corre da rede o grupo que faz piadas com a violação. Resta saber se o dono do bar não expulsaria o humorista se a maioria da clientela se queixasse do sucedido e o classificasse de mau gosto. O Facebook manteve a sua convição: grupos ou páginas que expressem uma opinião sobre um estado, instituição ou conjunto de crenças - mesmo quando as opiniões sejam ultrajantes ou ofensivas para alguns – não violam as suas políticas da trampa, é mesmo o que apetece dizer. Essas discussões, diz ainda, são reflexo das conversas que as pessoas têm nas suas casas, nos cafés, ao telefone. Sim, certo, já sabemos como as pessoas cultivam a desinformação, o absurdo, o vil, o mesquinho, o inútil, o obsceno, no covil das suas casas. Eu posso chamar filho da puta ao meu patrão no recanto do meu covil e sei que nada de grave ocorrerá. Se o fizer no Facebook, arrisco-me a sofrer consequências, o Facebook é um lugar público com 800 milhões de utilizadores.

O que eu concluo depois de ter espreitado a página e de ter visto aos 300 comentários é que se o Facebook faz receita com publicidade ele nunca vai apagar nada, página ou grupo, capaz de gerar uma tamanha movimentação de usuários como essa. Também o dono do bar não expulsaria o humorista inconveniente a não ser que a clientela ameaçasse deixar de frequentar o seu estabelecimento. Mas alguém quererá deixar o Facebook?

Além do Facebook ter apagado a página do meu amigo César Figueiredo sem apelo nem agravo, existem casos mais populares do que esse. Em 2009 estalou a polémica porque o Facebook entendeu que fotos de mães a amamentar era obscenas, pornográficas, de conteúdo sexualmente explícito! Como dizem os americanos WTF = what the fuck?!! Não estavam contra o acto em si, pudera, mas sim contra a exposição dos mamilos desnudos! Como é que se amamentam bebés com mamilos vestidos?! O Facebook não é deste mundo e depois ainda me olham de banda quando declaro o meu amor ao Blogger! Holly shit! Um mamilo! Barry Schnitt, porta-voz do Facebook, - cujo nome até rima com shit – diz que foi para proteger os mais jovens usuários do site - lembro que a idade mínima para aceder são os 13 anos, logo, altamente improvável que aos 13 anos os jovens nunca tenham visto um mamilo, certo? Até desmaiavam com tamanha descoberta. Que toda a nudez seja castigada, declarou o Facebook! Em Janeiro de 2011 foi a vez do The Leaky Boob ver a sua página banida, mas depois foi reposta. Apenas defendem a amamentação como benéfica para os recém-nascidos.

O Facebook também não remove páginas de negação do Holocausto por uma questão de liberdade de expressão e porque deseja manter a consistência das suas políticas...e nisso cabem as declarações ignorantes das pessoas sobre factos históricos, nomeadamente esse, declarou! Parece que para o Facebook meia palavra não basta mesmo que o entendedor seja bom, muito bom. As declarações de ódio têm de ser mesmo, mesmo explícitas, do tipo" I hate muslims in OZ”, um exemplo de página que foi banida. Do meu ponto de vista a malta que trabalha para o Facebook ou tem preguiça mental ou défice de neurónios tal é a manifesta incapacidade para fazer uma leitura que vá além do sentido lateral dos conteúdos. O Facebook parece ser uma rede gerida por crânios pouco habilitados. Não me espanta que a censura no Facebook tenha vindo para ficar. E o mais que se verá.

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