Desemprego: as razões da Sara são as razões de muitos





"NÃO MATAM MAS MOEM

Ver diariamente dezenas de anúncios de emprego, uns enganosos, outros com requisitos que não preencho, outros inacessíveis (queres ver o contacto, paga!); responder a uns quantos e não receber nem os avisos de leitura dos mails; ver o meu nome todas as semanas nas listas de “não colocação” do MEC; imprimir as provas disto tudo para arquivar no dossier do IEFP (que provavelmente nunca vai ser fiscalizado); ir a entrevistas onde me oferecem salários ridículos, me fazem esperar horas e nem se dão ao trabalho de me informar depois que não fui seleccionada; receber cartas da SS a dizer que tenho 30 dias para devolver “prestações indevidamente pagas”; ir à Junta de Freguesia de 15 em 15 dias mostrar um papel e trazer outro: não mata, mas mói… e CANSA!

Fazer contas à vida todos os dias, hesitar em cada compra, vasculhar prateleiras e cupões do supermercado para poupar uns cêntimos; tentar gastar menos luz, menos água, menos tabaco; separar coisas para tentar vender, a ver se arranjo uns trocos; recusar convites de amigos para jantar e/ou beber uns copos; ver cada vez mais gente a pedir nas ruas e a vasculhar o lixo (lembrando-me que ainda há mais patamares para descer), e não poder ajudar: não mata, mas mói… e ENTRISTECE!

Ver notícias sobre o aumento do desemprego, o alastrar da miséria, o caos instalado nas escolas, os cortes nos salários, nas reformas e nas prestações sociais; ver as poses pindéricas e ouvir as verborreias do Silva, do Coelho, do Portas, da Albuquerque, do Barroso e já agora do Seguro e da maior parte dos deputadosinhos: não mata, mas mói… e ENOJA!

Ir às manifestações sozinha ou às vezes com um amigo ou outro, que a maior parte tem preguiça ou muito calor ou medo da chuva ou não acredita que resulte; ouvir alguns desses amigos e outros, conhecidos, a dizer que não adianta nada, que eles foram eleitos democraticamente e a culpa é de quem votou neles e/ou de quem se absteve (como eu!); ouvir também de alguns que isto só se resolve com violência, acções radicais, é partir tudo, é parar tudo (mas é só letra, que não os vejo mexer uma palha, quanto mais uma pedra); ver pessoas encostadas às montras de Santa Catarina, a deixar passar as manifestações onde desfilo, pasmadas, indiferentes, incomodadas, condescendentes; não mata, mas mói… e DÓI!

Porque estou cansada, triste, enojada, dorida e, sobretudo, REVOLTADA, mas ainda não estou morta, amanhã vou à MARCHA POR ABRIL da CGTP. No dia 26 também irei à manifestação NÃO HÁ BECOS SEM SAÍDA, do “Que Se Lixe a Troika”.

Não posso ficar parada enquanto o meu país é destruído e engolido num suicídio europeu. Não posso ficar calada enquanto houver uma corja de gente ignóbil a arrasar a minha vida e a de milhões de outras pessoas.

Eu sei que as manifestações não matam. Mas sei que moem. E as próximas hão-de moer e moer e MOER."

Por Sara Nelma. https://www.facebook.com/sara.nelma

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