Televisão: Fabulous Fashionistas: não há idade para vestir bem


Estas seis mulheres que podem ver no print acima têm uma média de idades que ronda os oitenta anos. A realizadora de Fabulous Fashionistas é Sue Bourne, ela está ligada à produção de um documentário que talvez tenham visto, The falling man, relacionado com o 11 de Setembro. Neste curioso documentário do Channel 4 questiona-se, a propósito de estilo e moda, se a terceira idade tem de ser aborrecida e vivida na invisibilidade, no recolhimento, abdicando, portanto, antes do tempo, de viver a vida ao máximo. Quem são as mulheres acima?

A primeira, Sue Kreitzman, americana a viver em Londres, tem 73 anos e é artista. Ela escrevia livros sobre cozinha saudável e dietas e tinha imenso sucesso. De um momento para o outro teve uma epifania e descobriu a arte para choque da sua família e amigos quando estava a terminar o seu 27º livro, que se tornaria o seu último. Nunca mais parou de criar e de viver rodeada de cor. Ela compõe o seu guarda-roupa, nunca sai à rua sem os seus acessórios. Habituou-se a ser olhada e fotografada na rua, isso não a incomoda. O seu conselho: não vistam bege, o bege suga de nós toda a vida que temos! Mata qualquer uma. Liberta da tirania da moda, ela encontrou a liberdade para se afirmar e está confortável com isso.

" Não uses bege. Irá matar-te"

A segunda é Bridget Sojourner, tem 75 anos. Trabalhou como educadora para a saúde durante longos anos. Recebe uma pensão do Estado e veste-se nas lojas de roupa em segunda mão. Mas nem por isso deixa de ter estilo.Trabalha como jardineira para conseguir mais dinheiro. Ela abraçou uma campanha para mostrar à sociedade que a terceira idade existe, que envelhecer não é tornar-se invisível. Tenta passar a sua mensagem junto de agências de comunicação mas a conclusão é que estas não estão ainda prontas para aceitar esta forma de viver a terceira idade. Os anunciantes, seus clientes, querem velhinhas doces de chinelos e andarilho. A comunicação é terreno para os novos, não para os velhos. Dizem-lhe que, se a aceitassem, seria por ela mesma e não como representante de uma nova visão da terceira idade.

" Todos os dias as pessoas param-me na rua, estupefactas por eu ter tanto estilo nesta idade."

A terceira, Gillian Lynne, tem 87 anos. Esta senhora é realmente fabulosa. É directora teatral, dançarina e coreógrafa, e continua a trabalhar todos os dias. Trabalhou no West End nos musicais Cats e Phantom of the Opera. Segue uma rotina de 40 minutos de alongamentos diários, assim que sai da cama. Não que o faça sem esforço, mas diz que precisa. Ela aparenta metade da idade que tem, verdade, extraordinário. O marido tem menos 20 anos do que ela.

"Reformar-se é perigoso."

Jean Woods, tem 75 anos. Depois de perder o marido olhou à sua volta, precisava de se sustentar e de encontrar uma razão para ser útil. Acabou por encontrar a moda. Foi o filho quem a encorajou, foi ele quem sugeriu que ela fosse à GAP, em Bath, onde acabou por ficar um ano; depois mudou para uma outra boutique de roupas com que se identificava mais. Corre três vezes por semana e nem um joelho de metal a faz abrandar.

"Não há limite de idade para ter estilo. Não me visto para parecer mais jovem. 
Visto-me para me sentir eu mesma."

A senhora de chapéu é a mais velha, tem 91 anos e é a Baronessa Trumpington. Divide o seu tempo entre as sessões na Casa dos Lordes, as visitas ao cabeleireiro e as compras semanais. Mas para comprar roupa prefere os catálogos, já não tem paciência para ir às lojas e, além disso, diz que a roupa lá é mesmo barata.

" A simplicidade é a chave. "

A última é Daphne Selfe e este é o seu portfolio. Daphne usa cabelo longo e tem 85 anos. É a mais velha modelo de Inglaterra, avó de quatro. Foi descoberta pelas agências quando tinha 70 anos. Sim, ela apareceu até na Vogue italiana. Podem encontrar fotos suas na recente campanha de outono da TKMaxx 2013.

"O momento em que desistimos de nós é o momento em que ficamos velhas."

Ideias de como as pessoas idosas se devem comportar, desta ou daquela forma, e por nenhum outro motivo que não seja o da sua idade, não faltam. Mas a verdade é que esta é uma questão cultural, que apresenta diferenças de sociedade para sociedade e que sofre alterações ao longo dos tempos. Mas na sociedade em que vivemos, é essa a que o documentário Fabulous Fashionistas se refere, é como se o processo de envelhecimento ditasse apenas por si uma sentença de morte antecipada. A vida parece pertencer aos jovens. Mesmo na ausência da doença ou de uma acentuada diminuição de capacidades físicas e intelectuais, a tendência é para julgarmos os mais idosos como acabados. Eles mesmos também cedem a essa postura e, ou acabam por se conformar com ela, meio azedos, ou cultivam, até com certa naturalidade, a ideia de que "já fizeram tudo", que " estão prontos para partir", que nada mais há para descobrir ou empreender. É como se a partir de certa idade as pessoas se reformassem não apenas do trabalho mas da vida no seu todo, demitindo-se até de ser felizes apenas porque já viveram tudo. O fim da vida é invariavelmente pardacento, um remoer de memórias, nada mais.

Estas seis senhoras, cuja média de idades se situa nos 80 anos, foram convidadas a mostrar como encaram o seu dia-a-dia. Não se limitam a combater essas ideias como, na prática, levam uma vida condizente. No meu caso, não preciso delas para me inspirar. A minha avó viveu além dos 90 anos e manteve-se activa, cuidando de si, da casa, das netas, dos pássaros, das plantas, vendo TV, lendo. Por fim o coração acabou por ceder. Ela era uma pessoa comum, ou seja, não se pense que é preciso ser um membro do Governo, modelo, artista ou coreógrafa, para pensar como estas senhoras. Certo que, por vezes a vida dá uma ajuda, noutros casos, não. A minha avó era, como elas, uma pessoa saudável, de espírito forte, determinada. Não fazia ioga, nem tai-chi nem a espargata. Não era uma artista, nem era sequer assim exuberante mas também não usava bege. Sei que no seu espírito havia sempre cor. Isso deve ter bastado. Não teve uma vida fácil. Mas nunca parou até o coração parar.

Pensando nelas, as mulheres do documentário, vejo que se conhecem bem, que são genuínas na forma como pensam e agem. Não se enganam a si mesmas nem querem enganar ninguém. Também não são super-mulheres. Elas contam que passaram por traumas diversos, como qualquer uma, apenas seguiram em frente, melhor que algumas, agarrando o amanhã com tenacidade, sem desistir e sem lamurias Não as vemos a seguir por caminhos com os quais não se sintam confortáveis, elas sabem até onde podem ir, mesmo a mais artista delas conhece os limites, ela não quer parecer uma tonta qualquer. O uso da cor surge como algo importante, uma afirmação contra a invisibilidade, aquele lugar para onde a terceira idade é tantas vezes atirada. Não usem bege, não se escondam, diz ela. Não passem despercebidas. Mas ao mesmo tempo sejam simples, nada de muita confusão, não sejam trapalhonas - se nunca o foram, não vão sê-lo agora. Não receiem a mudança, uma delas escrevia livros de cozinha e depois tornou-se artista. Seguir por um novo caminho pode dar-nos uma vida nova, é o que se conclui. E quem disse que é tarde demais? Apesar de não vermos estas senhoras a correr para o spa e a injectar-se com botox, fica claro que elas têm cuidados de beleza: usam maquilhagem e tratam os cabelos. E fazem exercício físico. Mas fazem-no na rua, em casa, no jardim. Ou seja, podemos não ter dinheiro para ir ao ginásio, mas sempre poderemos fazer qualquer coisa, no mínimo dos mínimos podemos caminhar e respirar ar puro todos os dias. O corpo precisa de ser usado, os músculos ainda lá estão, todos os ossos do esqueleto - a não ser que tenhamos um joelho de metal! Não se pode ceder à doença, pois se cedermos um milímetro, a doença cobra-nos uma milha, diz uma delas. Nem à doença nem à vida, ou seja ao acomodo, às dificuldades, ao que os outros dizem, aos estereótipos. Na realidade precisamos de nos mexer até ao fim da nossa vida, um corpo exercitado vai superar melhor as eventuais provações, uma queda, uma fractura. Todas estas senhoras foram abençoadas com meios de subsistência, uma vida confortável. Quem sabe se estariam assim tão bem se tivessem passado por provações diversas. Uma delas, a coreógrafa, diz-nos que contraiu uma pneumonia recentemente e que à noite nem tinha coragem de dormir, com receio de morrer durante o sono. Ainda estava a recuperar nas últimas imagens que nos mostram dela e o abalo físico era notório. Mas ao mesmo tempo dizia que ansiava apenas sentir de novo "os cavalos a galopar" e esse seria o momento de voltar ao trabalho. Além de gostarem delas mesmas e do exercício físico, o trabalho parece ser outro dos elementos do seu elixir da juventude. Todas elas são activas, Gillian, em especial, chegando até a temer o momento da reforma: parar é morrer. Não tem planos para se reformar. Activas, todas, com muito interesse pela vida: - Amem a vida, porque não há uma segunda oportunidade, diz a Daphne. Se puderem vejam. São apenas 40 minutos.

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