O caracol gigante africano




Adulto, caputrado na Nigéria, 17cm, 647 grs)

O caracol gigante africano é considerado uma peste em virtude do seu apetite incontrolável. São 20 cm de bicho em espiral, mole e pegajoso. Com este corpinho a coisa não vai lá com uma dose de couve-flor ao nascer do sol e um trevo de quatro folhas ao jantar. A dieta é variada - frutos como bananas e flores, sementes e grãos, amendoins, alface, fungos e até pedras, areia e ossos porque a casa precisa de ser robusta e o cálcio das plantas nem sempre é suficiente. Os comuns têm milhares de pequenos dentes ao longo de uma extensa língua, com estes não deve ser diferente. Estão activos de noite, de dia escondem-se no chão. São uns tipos anti-sociais, vivem sós durante toda vida que pode chegar aos 10 anos. Há quem faça do caracol gigante um animal de estimação mas não sei até que ponto eles querem ser estimados. Também é empregue em rituais de magia e pode ser cozinhado à semelhança dos pequenos primos europeus. Pelo menos estes caracóis não têm que se preocupar com os tordos ao contrário dos primos que vemos por aí nos jardins. Os caracóis são um petisco para os tordos sendo lapidados até à morte contra uma rocha antes de serem engolidos. Isto porque os tordos recusam que a comida lhes dê a volta ao estômago, tem de estar morta e bem morta. E também dispensam suplementos de cálcio em forma de casca. Se os caracóis conseguirem escapar dos tordos podem acabar na barriga de um ouriço, de um rato ou de muitos outros predadores. É o que dá não conseguirem avançar mais do que 5 metros por hora. Eles levam o movimento Slow Life muito a sério, tão a sério que estão dispostos a morrer em vez de evoluírem! Já são muitos anos a arrastar a casca, não acham? Darwin ficaria desapontado. Mas ainda podem cair nas malhas de um destino pior. As larvas dos luzicus são umas lambonas por caracol: injectam uma substância que dissolve o corpo macio e tenro dos caracóis, aguardam e depois sugam-nos vivos, alarvemente. Esses caga-lumes são do pior. Há fêmeas que usam a lanterna biológica para atrair os machos de outra espécie e estes acorrem todos lampeiros convencidos de que vai haver truca-truca. Acabam por ser litaralmente comidos. É muita perfídia. E depois muitos estudiosos ainda se espantam porque estes coleópteros emitem luz fria. São bichos que não têm coração, o que mais havia de ser. Mas isso é outro assunto. Em resumo: a Natureza é uma casinha dos horrores e nós até quase já parecemos misericordiosos quando mergulhamos os caracóis na água a ferver para os cozinhar. Com tanta conversa sobre os gastrópodes um pratinho de "escargots à la bourguignonne" já escorregava.


Um caracol comum - Fonte

Comentários